Weber inicia o ensaio questionando sobre o conjunto de fatores que possibilitou à civilização ocidental (cultura europeia) um fazer científico em que a abordagem dos fenômenos naturais é dotada de um desenvolvimento "universal" em seu valor e significado. Ele se refere tanto a uma química racional, com fundamentos biológicos e bioquímicos, quanto à arte: a música é racional, com suas harmonias, sistema de notação, sinfonias, óperas... e também houve uma racionalização clássica das artes, legado do renascimento, com a utilização racional de linhas e da perspectiva espacial.
"um tratamento racional, sistemático e especializado da ciência por especialistas treinados, em um sentido que se aproximasse de seu atual papel de dominância na cultura contemporânea, não existiu senão no Ocidente" (p. 3).
"O próprio 'Estado', tomado como entidade política, com uma 'Constituição' racionalmente redigida, um Direito racionalmente ordenado, e uma administração orientada por regras racionais, as leis, administrado por funcionários especializados, é conhecido, nessa combinação de características, somente no Ocidente, apesar de todas as outras que dele se aproximaram. (...) O mesmo ocorre com a força mais significativa de nossa vida moderna: o Capitalismo." (p. 4).
"O desejo de ganho ilimitado não se identifica nem um pouco com o capitalismo, e muito menos com o 'espírito' do capitalismo. O capitalismo pode até identificar-se com uma restrição, ou, pelo menos, com uma moderação racional desse impulso irracional. De qualquer forma, porém, o capitalismo, na organização capitalista, permanente e racional, equivale à procura do lucro, de um lucro sempre renovado, da 'rentabilidade'." (p. 4).
"Tudo é feito em termos de balanço: a previsão inicial no começo da empresa, ou antes de qualquer decisão individual; o balanço final para verificação do lucro obtido" (p. 5)
Para Weber, como as operações são racionais, "toda ação individual das partes é baseada em cálculo. A inexistência de um cálculo realmente apurado, o fato de o procedimento ser pura adivinhação, ou simples tradição e convenção, ocorre ainda hoje em toda forma de empresa capitalista em que as circunstâncias não exijam precisão absoluta. Esses fatos, entretanto, pouco afetam a racionalidade da aquisição capitalista" (p. 6).
O que importa quando se trata da racionalidade da aquisição capitalista é a "efetiva orientação para um ajustamento dos lucros ao investimento, por mais primitiva que seja a sua forma" (p. 6). Se é assim, o "Capitalismo" e empresas "capitalistas", inclusive com considerável racionalização capitalística, "existiram em todos os países civilizados da Terra" (p. 6). Porém, "o Ocidente desenvolveu uma gama de significados do capitalismo e o que lhe dá consistência - tipos, formas e direções - que antes nunca existiram em parte alguma" (p. 6).
Em outros lugares do mundo (Babilônia, Grécia, Índia, China, Roma...) existiu o capitalismo em que as atividades do "aventureiro capitalista": "suas atividades, exceto as de caráter comercial, creditício ou bancário, eram de caráter puramente irracional ou especulativo, ou, quando muito, orientados para a apropriação pela força" (p. 7). Mas, a partir da Idade Moderna, no Ocidente se encontra um tipo de capitalismo diverso: "a organização capitalística racional assentada no trabalho livre (formalmente pelo menos)". De acordo com Weber, só alguns "casos isolados de trabalho livre em algumas indústrias caseiras podem ser encontrados 'fora' do Ocidente" (p. 7).
Organização industrial racional, orientada para um mercado real, e não para oportunidades políticas e especulativas de lucro, é exclusiva do capitalismo ocidental. E os fatores que viabilizaram o desenvolvimento da moderna organização racional da empresa capitalista foram a criação de uma contabilidade racional e a separação entre a empresa e a economia doméstica, na qual se inclui a separação jurídica dos bens da empresa dos bens do indivíduo. Além disso, "sem a organização do trabalho em moldes capitalistas, tudo isso, mesmo que fosse possível, não teria seu atual significado. Principalmente no que diz respeito à estrutura social, e a todos os problemas contemporâneos especificamente ocidentais que dela decorrem. O cálculo exato - base de todos os demais - só é possível no plano do trabalho livre" (p. 8).
O socialismo racional também só pôde ser desenvolvido no moderno Ocidente porque existe uma organização racional do trabalho. Só o moderno possibilita existir o conceito de cidadão e o de "burguesia". Da mesma forma, só passou a existir o conceito do "proletariado" como classe com o surgimento do trabalho livre institucionalizado.
O que interessa a Weber, em uma história universal da cultura (mesmo do ponto de vista puramente econômico), são as origens do sóbrio capitalismo burguês, com sua organização social do trabalho.
"A forma peculiar do moderno capitalismo ocidental foi, à primeira vista, fortemente influenciada pelo desenvolvimento das possibilidades técnicas. Sua racionalidade decorre atualmente da maneira direta de calculabilidade precisa de seus fatores técnicos mais importante. Implica isso principalmente numa dependência da ciência ocidental, notadamente das ciências matemáticas e das experimentalmente exatas ciências da natureza. O desenvolvimento de tais ciências e das técnicas baseadas nelas, por sua vez, receberam e recebem importantes impulsos dos interesses capitalistas ligados à sua aplicação prática na economia. As origens da ciência ocidental, entretanto, não podem ser atribuídas apenas a tais interesses" (p. 10).
"a utilização técnica dos conhecimentos científicos, tão importantes para as condições de vida das nossas massas, foi certamente encorajada por considerações econômicas, que justamente se assentavam nela [utilização) no Ocidente" (p. 10). Encorajamento este decorrente das peculiaridades da organização social do Ocidente. Entre elas, as estruturas racionais do direito e da administração. Assim, o moderno capitalismo se baseia: nos meios técnicos de produção, num determinado sistema legal e numa administração orientada por regras formais. Estes é que possibilitam a existência de empresas racionais, sob iniciativa particular, com capital fixo e baseada num cálculo seguro.
O desenvolvimento científico, artístico, político e econômico só se desenvolveu ao grau de racionalização que, de acordo com Weber, é peculiar ao Ocidente, porque trata-se do "racionalismo" específico da cultura ocidental. Assim, por conta da importância fundamental da economia, deve-se analisar primeiro as condições econômicas para reconhecer a peculiaridade específica do racionalismo ocidental. Mas a correlação inversa também é possível, pois:
"o racionalismo econômico, embora dependa parcialmente da técnica e do direito racional, é ao mesmo tempo determinado pela capacidade e disposição dos homens em adotar certos tipos de conduta racional. Onde elas (capacidade e disposição) foram obstruídas por obstáculos espirituais, o desenvolvimento de uma conduta econômica também tem encontrado uma séria resistência interna" (p. 11). Afinal, as forças mágicas e religiosas e os ideais éticos de dever delas decorrentes estão entre os mais importantes elementos formativos da conduta dos indivíduos.
"um tratamento racional, sistemático e especializado da ciência por especialistas treinados, em um sentido que se aproximasse de seu atual papel de dominância na cultura contemporânea, não existiu senão no Ocidente" (p. 3).
"O próprio 'Estado', tomado como entidade política, com uma 'Constituição' racionalmente redigida, um Direito racionalmente ordenado, e uma administração orientada por regras racionais, as leis, administrado por funcionários especializados, é conhecido, nessa combinação de características, somente no Ocidente, apesar de todas as outras que dele se aproximaram. (...) O mesmo ocorre com a força mais significativa de nossa vida moderna: o Capitalismo." (p. 4).
"O desejo de ganho ilimitado não se identifica nem um pouco com o capitalismo, e muito menos com o 'espírito' do capitalismo. O capitalismo pode até identificar-se com uma restrição, ou, pelo menos, com uma moderação racional desse impulso irracional. De qualquer forma, porém, o capitalismo, na organização capitalista, permanente e racional, equivale à procura do lucro, de um lucro sempre renovado, da 'rentabilidade'." (p. 4).
"Tudo é feito em termos de balanço: a previsão inicial no começo da empresa, ou antes de qualquer decisão individual; o balanço final para verificação do lucro obtido" (p. 5)
Para Weber, como as operações são racionais, "toda ação individual das partes é baseada em cálculo. A inexistência de um cálculo realmente apurado, o fato de o procedimento ser pura adivinhação, ou simples tradição e convenção, ocorre ainda hoje em toda forma de empresa capitalista em que as circunstâncias não exijam precisão absoluta. Esses fatos, entretanto, pouco afetam a racionalidade da aquisição capitalista" (p. 6).
O que importa quando se trata da racionalidade da aquisição capitalista é a "efetiva orientação para um ajustamento dos lucros ao investimento, por mais primitiva que seja a sua forma" (p. 6). Se é assim, o "Capitalismo" e empresas "capitalistas", inclusive com considerável racionalização capitalística, "existiram em todos os países civilizados da Terra" (p. 6). Porém, "o Ocidente desenvolveu uma gama de significados do capitalismo e o que lhe dá consistência - tipos, formas e direções - que antes nunca existiram em parte alguma" (p. 6).
Em outros lugares do mundo (Babilônia, Grécia, Índia, China, Roma...) existiu o capitalismo em que as atividades do "aventureiro capitalista": "suas atividades, exceto as de caráter comercial, creditício ou bancário, eram de caráter puramente irracional ou especulativo, ou, quando muito, orientados para a apropriação pela força" (p. 7). Mas, a partir da Idade Moderna, no Ocidente se encontra um tipo de capitalismo diverso: "a organização capitalística racional assentada no trabalho livre (formalmente pelo menos)". De acordo com Weber, só alguns "casos isolados de trabalho livre em algumas indústrias caseiras podem ser encontrados 'fora' do Ocidente" (p. 7).
Organização industrial racional, orientada para um mercado real, e não para oportunidades políticas e especulativas de lucro, é exclusiva do capitalismo ocidental. E os fatores que viabilizaram o desenvolvimento da moderna organização racional da empresa capitalista foram a criação de uma contabilidade racional e a separação entre a empresa e a economia doméstica, na qual se inclui a separação jurídica dos bens da empresa dos bens do indivíduo. Além disso, "sem a organização do trabalho em moldes capitalistas, tudo isso, mesmo que fosse possível, não teria seu atual significado. Principalmente no que diz respeito à estrutura social, e a todos os problemas contemporâneos especificamente ocidentais que dela decorrem. O cálculo exato - base de todos os demais - só é possível no plano do trabalho livre" (p. 8).
O socialismo racional também só pôde ser desenvolvido no moderno Ocidente porque existe uma organização racional do trabalho. Só o moderno possibilita existir o conceito de cidadão e o de "burguesia". Da mesma forma, só passou a existir o conceito do "proletariado" como classe com o surgimento do trabalho livre institucionalizado.
O que interessa a Weber, em uma história universal da cultura (mesmo do ponto de vista puramente econômico), são as origens do sóbrio capitalismo burguês, com sua organização social do trabalho.
"A forma peculiar do moderno capitalismo ocidental foi, à primeira vista, fortemente influenciada pelo desenvolvimento das possibilidades técnicas. Sua racionalidade decorre atualmente da maneira direta de calculabilidade precisa de seus fatores técnicos mais importante. Implica isso principalmente numa dependência da ciência ocidental, notadamente das ciências matemáticas e das experimentalmente exatas ciências da natureza. O desenvolvimento de tais ciências e das técnicas baseadas nelas, por sua vez, receberam e recebem importantes impulsos dos interesses capitalistas ligados à sua aplicação prática na economia. As origens da ciência ocidental, entretanto, não podem ser atribuídas apenas a tais interesses" (p. 10).
"a utilização técnica dos conhecimentos científicos, tão importantes para as condições de vida das nossas massas, foi certamente encorajada por considerações econômicas, que justamente se assentavam nela [utilização) no Ocidente" (p. 10). Encorajamento este decorrente das peculiaridades da organização social do Ocidente. Entre elas, as estruturas racionais do direito e da administração. Assim, o moderno capitalismo se baseia: nos meios técnicos de produção, num determinado sistema legal e numa administração orientada por regras formais. Estes é que possibilitam a existência de empresas racionais, sob iniciativa particular, com capital fixo e baseada num cálculo seguro.
O desenvolvimento científico, artístico, político e econômico só se desenvolveu ao grau de racionalização que, de acordo com Weber, é peculiar ao Ocidente, porque trata-se do "racionalismo" específico da cultura ocidental. Assim, por conta da importância fundamental da economia, deve-se analisar primeiro as condições econômicas para reconhecer a peculiaridade específica do racionalismo ocidental. Mas a correlação inversa também é possível, pois:
"o racionalismo econômico, embora dependa parcialmente da técnica e do direito racional, é ao mesmo tempo determinado pela capacidade e disposição dos homens em adotar certos tipos de conduta racional. Onde elas (capacidade e disposição) foram obstruídas por obstáculos espirituais, o desenvolvimento de uma conduta econômica também tem encontrado uma séria resistência interna" (p. 11). Afinal, as forças mágicas e religiosas e os ideais éticos de dever delas decorrentes estão entre os mais importantes elementos formativos da conduta dos indivíduos.