Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do consumo moderno (Cultura, consumo e identidade), BARBOSA, CAMPBELL
Metafísica, conforme consta no dicionário, está relacionada a "princípios básicos, especialmente em relação a ser e saber". O consumo, por sua vez, está ligado à rotina, à prática e ao mundano. Para Colin Campbell, o fato de as atividades de procura, compra e utilização de bens e serviços que atendem as necessidades e satisfaçam desejos serem consideradas tão importantes na vida das pessoas... é porque elas realmente o são! Até mesmo CENTRAIS na vida delas.
Se desempenha uma função tão mais importante do que meramente satisfazer necessidades, ou a busca do prazer, ou afirmar um status, então é possível que o consumo tenha uma dimensão que o relacione com as mais profundas e definitivas questões que os seres humanos possam se fazer, questões relacionadas com a natureza da realidade e com o verdadeiro propósito da existência. Justamente, questões do "ser e do saber".
No consumo moderno, há duas questões que se sustentam mutuamente... sua relação com a emoção, desejo, imaginação (a necessidade é importante, mas não central. não é ela o dínamo que sustenta a economia!), e com o individualismo (afinal, os produtos são para uso próprio, poder de decisão!). O consumo moderno está mais preocupado em saciar vontades do que em satisfazer necessidades: "a relevância disso é que, enquanto as necessidades podem ser, e em geral costumam ser, objetivamente estabelecidas, as vontades só podem ser identificadas subjetivamente. Isso significa que outros podem lhe dizer sempre do que você precisa (...) mas ninguém, a não ser você mesmo, está em posição de decidir o que você realmente deseja" (p. 49).
Em sua natureza, o consumismo moderno é claramente individualista, não público, e tem mais a ver com sentimentos, emoções -- desejos -- do que com razão e calculismo. Essas duas características fornecem uma conexão explícita com a cultura, e proporcionam a base para declarações de que o consumismo moderno se baseia em hipóteses metafísicas.
Um dos tópicos que conecta objetos de consumo e assuntos metafísicos é a IDENTIDADE. Mas o autor discorda das afirmações pós-modernas que consideram o eu contemporâneo ou pós-modero excepcionalmente aberto e flexível. "O consumo, longe de exacerbar a 'crise de identidade', é, na verdade, a principal atividade pela qual os indivíduos geralmente resolvem esse dilema" (p.51).
"Os indivíduos se autodefinem, isto é, especificam o que consideram sua identidade essencial -- quase sempre exclusivamente em termos de seus gostos. Isto é, em termos de seus perfis específicos de gostos e desejos" (p. 51) ... música, literatura, artes, comidas e bebidas, e o que fazem como lazer.
Pois sentimos que nossos desejos, nossas preferências, são o que nos definem mais claramente, nossa individualidade, a nossa "real" identidade. Quem achamos que realmente somos se encontra em nossa mescla ou combinação especial de gostos. Outras definições, como sexo, raça, nacionalidade, etnia e religião continuam importantes como características básicas.
Mas a proliferação de escolhas, característica da sociedade consumidora moderna, é essencial para que venhamos a descobrir quem somos. Nós testamos a nós mesmos através de uma ampla variedade de produtos. Assim, o mercado se torna indispensável para o processo de descoberta de quem somos.
"O verdadeiro local onde reside a nossa identidade deve ser encontrado em nossas reações aos produtos e não nos produtos em si" (p.53)
"A identidade é descoberta, e não comprada" (p. 53)
Essa maneira de conceber a própria identidade é tão nova! Até porque, para nossos pais e avós, "a identidade estava muito mais relacionada ao status e à posição que ocupavam em várias instituições e associações, como família, trabalho, religião, raça, etnia e nacionalidade. Tudo isso era muito mais importante do que algo tão insignificante quanto gosto pessoal" (p. 53)
EPISTEMOLOGIA (saber a verdade) CONSUMISTA:
"gosto não se discute" + "o consumidor tem sempre razão" = a "VERDADE" é estabelecida da mesma maneira que a existência de vontades, isto é, mediante o escrutínio do estado emocional interno da pessoa.
ONTOLOGIA = teoria da realidade. experimentar o real.
Se as pessoas mudam seu padrão de gostos ou preferências, trata-se do self sendo definido pelo desejo, do nosso perfil sendo traçado por nossas preferências.
A necessidade humana mais profunda de reafirmar a realidade do self! "O consumo pode ser visto como uma resposta à insegurança ontológica ou à angústia existencial". Ele nos conforta, ao nos fazer saber que somos seres humanos autênticos.
"Vivemos numa cultura em que a realidade é equiparada à intensidade da experiência e, consequentemente, atribuída tanto à fonte de estímulo quanto àquele aspecto de nossa existência que reage a ele" (p. 57)
Assim, o fato de se desejar algo intensamente ajuda a me convencer de que realmente existo. "É preciso haver exposições regulares a estímulos novos para evitar o tédio e satisfazer a contínua busca pela reafirmação ontológica" (p. 58)
ONTOLOGIA EMANACIONISTA!
"a verdadeira atividade de consumo no mundo -- a seleção, a compra e o uso de produtos -- deve ser entendida como um processo que resulta da manifestação ou da 'conversão em realidade' de algo que antes era meramente latente" (p. 58)
A visão de mundo da Nova Era e a metafísica consumista! "A mágica também se apresenta de forma proeminente nos movimentos Nova Era e neopagãos que fazem hoje tanto sucesso das modernas sociedades ocidentais (...)"
Metafísica subjacente ao consumo moderno X Visão de mundo da Nova Era
> individualismo epistemológico: a autoridade emana do self, e não há autoridade verdadeira fora dele. A verdade é dita pelo seu eu interior.
> idealismo ou emanacionismo ontológico: a realidade consiste em mente e espírito, não matéria.
> filosofia "mágica": o "mundo material" ou "exterior" está subordinado diretamente ao poder dos pensamentos e desejos humanos.
Se desempenha uma função tão mais importante do que meramente satisfazer necessidades, ou a busca do prazer, ou afirmar um status, então é possível que o consumo tenha uma dimensão que o relacione com as mais profundas e definitivas questões que os seres humanos possam se fazer, questões relacionadas com a natureza da realidade e com o verdadeiro propósito da existência. Justamente, questões do "ser e do saber".
No consumo moderno, há duas questões que se sustentam mutuamente... sua relação com a emoção, desejo, imaginação (a necessidade é importante, mas não central. não é ela o dínamo que sustenta a economia!), e com o individualismo (afinal, os produtos são para uso próprio, poder de decisão!). O consumo moderno está mais preocupado em saciar vontades do que em satisfazer necessidades: "a relevância disso é que, enquanto as necessidades podem ser, e em geral costumam ser, objetivamente estabelecidas, as vontades só podem ser identificadas subjetivamente. Isso significa que outros podem lhe dizer sempre do que você precisa (...) mas ninguém, a não ser você mesmo, está em posição de decidir o que você realmente deseja" (p. 49).
Em sua natureza, o consumismo moderno é claramente individualista, não público, e tem mais a ver com sentimentos, emoções -- desejos -- do que com razão e calculismo. Essas duas características fornecem uma conexão explícita com a cultura, e proporcionam a base para declarações de que o consumismo moderno se baseia em hipóteses metafísicas.
Um dos tópicos que conecta objetos de consumo e assuntos metafísicos é a IDENTIDADE. Mas o autor discorda das afirmações pós-modernas que consideram o eu contemporâneo ou pós-modero excepcionalmente aberto e flexível. "O consumo, longe de exacerbar a 'crise de identidade', é, na verdade, a principal atividade pela qual os indivíduos geralmente resolvem esse dilema" (p.51).
"Os indivíduos se autodefinem, isto é, especificam o que consideram sua identidade essencial -- quase sempre exclusivamente em termos de seus gostos. Isto é, em termos de seus perfis específicos de gostos e desejos" (p. 51) ... música, literatura, artes, comidas e bebidas, e o que fazem como lazer.
Pois sentimos que nossos desejos, nossas preferências, são o que nos definem mais claramente, nossa individualidade, a nossa "real" identidade. Quem achamos que realmente somos se encontra em nossa mescla ou combinação especial de gostos. Outras definições, como sexo, raça, nacionalidade, etnia e religião continuam importantes como características básicas.
Mas a proliferação de escolhas, característica da sociedade consumidora moderna, é essencial para que venhamos a descobrir quem somos. Nós testamos a nós mesmos através de uma ampla variedade de produtos. Assim, o mercado se torna indispensável para o processo de descoberta de quem somos.
"O verdadeiro local onde reside a nossa identidade deve ser encontrado em nossas reações aos produtos e não nos produtos em si" (p.53)
"A identidade é descoberta, e não comprada" (p. 53)
Essa maneira de conceber a própria identidade é tão nova! Até porque, para nossos pais e avós, "a identidade estava muito mais relacionada ao status e à posição que ocupavam em várias instituições e associações, como família, trabalho, religião, raça, etnia e nacionalidade. Tudo isso era muito mais importante do que algo tão insignificante quanto gosto pessoal" (p. 53)
EPISTEMOLOGIA (saber a verdade) CONSUMISTA:
"gosto não se discute" + "o consumidor tem sempre razão" = a "VERDADE" é estabelecida da mesma maneira que a existência de vontades, isto é, mediante o escrutínio do estado emocional interno da pessoa.
ONTOLOGIA = teoria da realidade. experimentar o real.
Se as pessoas mudam seu padrão de gostos ou preferências, trata-se do self sendo definido pelo desejo, do nosso perfil sendo traçado por nossas preferências.
A necessidade humana mais profunda de reafirmar a realidade do self! "O consumo pode ser visto como uma resposta à insegurança ontológica ou à angústia existencial". Ele nos conforta, ao nos fazer saber que somos seres humanos autênticos.
"Vivemos numa cultura em que a realidade é equiparada à intensidade da experiência e, consequentemente, atribuída tanto à fonte de estímulo quanto àquele aspecto de nossa existência que reage a ele" (p. 57)
Assim, o fato de se desejar algo intensamente ajuda a me convencer de que realmente existo. "É preciso haver exposições regulares a estímulos novos para evitar o tédio e satisfazer a contínua busca pela reafirmação ontológica" (p. 58)
ONTOLOGIA EMANACIONISTA!
"a verdadeira atividade de consumo no mundo -- a seleção, a compra e o uso de produtos -- deve ser entendida como um processo que resulta da manifestação ou da 'conversão em realidade' de algo que antes era meramente latente" (p. 58)
A visão de mundo da Nova Era e a metafísica consumista! "A mágica também se apresenta de forma proeminente nos movimentos Nova Era e neopagãos que fazem hoje tanto sucesso das modernas sociedades ocidentais (...)"
Metafísica subjacente ao consumo moderno X Visão de mundo da Nova Era
> individualismo epistemológico: a autoridade emana do self, e não há autoridade verdadeira fora dele. A verdade é dita pelo seu eu interior.
> idealismo ou emanacionismo ontológico: a realidade consiste em mente e espírito, não matéria.
> filosofia "mágica": o "mundo material" ou "exterior" está subordinado diretamente ao poder dos pensamentos e desejos humanos.