"Modern feminisms", Maggie Humm (1992)

O livro é apresentado como uma leitura interdisciplinar, com o propósito de reunir algumas ideias importantes do feminismo ocidental, sem a pretensão de representar todo o espectro do feminismo: é uma seleção mais orientada para a teoria, do que para a prática; com base uma mais acadêmica do que no movimento em si; direcionada ao que era chamado de Primeiro Mundo, e não ao Terceiro. Para isso, a autora tenta oferecer um mapa geral da Primeira e da Segunda Onda do feminismo, que é definido como "a crença na igualdade entre os sexos, combinada com o compromisso de erradicar a dominação sexista e transformar a sociedade" (p. 1)

Maggie Humm explica que, com o slogan "o pessoal é político", escrito pela primeira vez por Carol Hanisch, é o feminismo contemporâneo que reconhece a política como demasiadamente diversa para ser enquadrada nos limites estreitos das categorias de partidos políticos. Segundo a autora, foram pequenos coletivos conhecidos como "consciousness-raising groups" (grupos de conscientização), ações diretas e campanhas radicais que deram forma às demandas políticas do feminismo contemporâneo, e não políticos eleitos.

WLM nos EUA (p. 4)
Na década de 1960, o feminismo militante (ou Women's Liberation Movement, de sigla WLM) criou uma nova política a partir do feminismo marxista e socialista, do feminismo radical e de outras respostas multifacetadas para questão de porquê as mulheres continuavam a sofrer com a desigualdade social, exploração e opressão. Nos EUA, o WLM emergiu ao final da década, caracterizado tanto por sua semelhança com o feminismo da Primeira Onda, no sentido de que ambos expandiram seus limites com os movimentos pelos Direitos Civis e contra a escravidão, quanto pelas mudanças na ordem política trazidas por esse feminismo anterior, como, por exemplo, o acréscimo ao Ato dos Direitos Civis, em 1964, da proibição da discriminação no ambiente de trabalho.

Em outros sentidos, o WLM era radicalmente diferente: ele estendeu os termos "política" e "economia" para a sexualidade, o corpo e as emoções, entre outras áreas da vida social antes tratadas unicamente como "pessoais" ou restritas ao âmbito familiar. O movimento também criou novas formas de organizações políticas, como pequenos grupos de conscientização anti-hierárquicos que eram organizados e tinham atuação independentes de homens, dando preferência a ação direta e padrões de vida alternativos.

WLM na Grã-Bretanha (p. 6)
A insurreição do feminismo militante, que começou nos EUA, se tornou visível na Grã-Bretanha em 1968, e o movimento britânico, assim como o movimento americano, foi marcado pelo mesmo envolvimento e o mesmo desencanto com as causas da New Left.

A base do feminismo do século XX, tanto americano quanto europeu, se expandiu no espaço de tempo que vai da primeira até a segunda onda. Esta dava ênfase às diferenças entre as mulheres e os homens, principalmente relativas ao corpo, opondo-se às "legalidades" de um mundo patriarcal, enquanto a primeira preocupava-se principalmente com a ideia de igualdade, vendo as mulheres como vítimas por possuírem acesso limitado a um conhecimento social "defeituoso". Na segunda onda, as mulheres estão desafiando esse conhecimento a partir da força de suas próprias experiências.

Se o primeiro feminismo centralizou o debate sobre materialismo, interesses individuais, coletivos e políticos das mulheres e auto-determinação, o segundo concentra seus argumentos na materialidade, nas solidariedades morais criadas pelos pontos de vista feministas, e nas identidades baseadas na diferença, o que inclui as forças material, psíquica e afiliativa das mulheres.

Humm argumenta que o feminismo da segunda onda é ainda mais influente mundialmente do que o da primeira onda, porém seus conceitos ocidentais não devem ser aplicados a países do Terceiro Mundo. Como exemplo, noções ocidentais de "público" e privado" são inapropriadas para descrever hierarquias sexuais em países onde a divisão sexual do trabalho vai além da distinção entre público e privado, pois as iniciativas e campanhas feministas são inevitavelmente moldadas pelas prioridades e políticas nacionais.