"A Pragmática", Françoise Armengaud (2ª ed., 2008)
No século XX, o estudo dos signos e da linguagem se distribuía entre as abordagens:
- semântica: relação dos signos, palavras e frases com as coisas e com o estado delas; estudo conjunto do sentido, da referência e da verdade.
- sintática: relações dos signos entre si, das palavras na frase ou das frases nas sequências de frases; envolve a formulação de regras de boa formação para expressões, e respeitar essas regras é condição para que os fragmentos gerados sejam providos de sentido e aptos a ser dotados de um valor de verdade (V ou F).
A abordagem pragmática, por sua vez, intervém para estudar a relação dos signos com os usuários dos signos, das frases com os falantes, pois as outras abordagens não esgotam nem o problema do sentido, nem o problema da verdade.
Conceitos da pragmática:
ATO: falar é agir; portanto, não apenas "representa o mundo", mas instaura um sentido para outro alguém. Esse conceito de ato é orientado para os conceitos mais "justos e abrangentes" de transação e interação.
CONTEXTO: a situação concreta em que os atos de fala são emitidos ou proferidos: o lugar, o tempo, a identidade dos falantes, etc. É indispensável para avaliar os atos.
DESEMPENHO: é a realização do ato em contexto, seja atualizando a competência dos falantes, ou seja, seu saber e domínio das regras, ou integrando o exercício linguístico a uma noção mais compreensiva, como a de competência comunicativa.
A pragmática também questiona princípios, como a decisão epistemológica de Saussure de afastar do campo linguístico (langue) a fala (parole) como um fenômeno puramente individual, e assume o lugar da perspectiva estruturalista e da gramática chomskiana.
Por outro lado, prolonga a linguística da enunciação iniciada por Benveniste: a distinção maior não se dá mais entre a língua e a fala, mas entre o enunciado (aquilo que é dito) e a enunciação (o ato de dizer), que é também um ato de presença do falante. "Ao instituir uma categoria de signos móveis e um aparelho formal de enunciação, a linguagem permite a cada um se declarar como sujeito" (p. 14).
A pragmática intervém nas questões clássicas internas à filosofia, bem como inspira filosofias e é chamada a renovar a teoria da literatura. Por exemplo, em relação a subjetividade: a concepção do sujeito muda quando ele é considerado antes de tudo como falante, ou interlocutor, o que nos aproxima dele não mais por pensamento, mas a partir da comunicação.
Os conceitos da pragmática se formaram nos países anglo-saxônicos, e depois fica evidente seu alcance filosófico nos países continentais. Seus fundadores incluem Peirce, Frege, Morris, Wittgenstein, Bar-Hillel. Como fundadores diretos, Armengaud classifica Peirce e Morris; indiretos, Frege e Wittgenstein; intermediários: Carnap, seguido de Bar-Hillel.
Em uma definição simples, a pragmática diz respeito "ao conjunto das condições de possibilidade do discurso" (JACQUES, Francis apud Armengaud, p. 12). Armengaud organiza a pragmática em três graus: a de primeiro grau corresponde ao estudo dos símbolos indexicais; a de segundo grau, do sentido literal e sentido comunicado; e de 3º grau, a teoria dos atos de fala.