O homem pensa por signos, e a linguagem é a essência do pensamento. Qualquer coisa e todo aspecto dela podem vir a ser signo, ou seja, entrar no processo triádico da semiose. A semiótica não é a ciência dos signos, mas da semiose, pois uma das propriedades do signo é sempre remeter a outro signo. Assim, o próprio pensamento é um signo, que remete a outro pensamento, que é o seu signo interpretante, e outro pensamento o interpreta, em um processo contínuo e indefinido.
Os fundamentos de Peirce são reflexivos e filosóficos, não empíricos. A triadicidade da semiose foi fundamentada numa teoria das categorias (dedução transcendental das categorias...?) tomada emprestada de Kant, a partir da qual Peirce funda sua própria filosofia: o pragmatismo.
Definição triádica daquilo que, ao entrar no processo de semiose, se torna signo:
Neste caso, o interpretante segundo Peirce NÃO é idêntico ao intérprete, que é um indivíduo empírico, mas um elemento constitutivo do próprio signo. É o signo equivalente ao que foi representado, porém criado na outra pessoa. Mais tarde, Morris e Carnap apagaram a distinção entre interpretante e intérprete.
A partir da obra de Peirce, a linguagem passou a ser compreendida sob o paradigma da comunicabilidade: o sentido é função do uso. O autor também fez duas distinções importantes para a análise da linguagem em geral e para a análise pragmática em particular: a distinção entre uma expressão considerada como "tipo" e as "ocorrências" dessa expressão, e a distinção entre signo-índice, signo-símbolo e signo-ícone.
Ocorrência x Tipo ("token"/"type")
"Em um mês, em um ano, como sofreremos
Que o dia recomece e que o dia acabe..."
Se estivermos lendo, temos duas inscrições materiais do termo "dia"; se estivermos ouvindo, duas enunciações vocais distintas do mesmo termo. Essas aparições concretas, datadas e localizadas, de um signo são chamadas de ocorrências ("token"), enquanto o termo suscetíveis às ocorrências é o tipo ("type"), entidade ideal, sempre idêntico a si mesmo, em diversas realizações.
O fato de se levar em consideração a identidade do falante, sua intenção e sua situação, modifica o sentido do signo, esclarece-o e enriquece-o. Quando se fala do sentido literal de uma frase, ela é isolada como frase-tipo, independente de toda ocorrência em um discurso; o sentido então é apenas função dos seus termos componentes e do seu encadeamento sintático. No enunciado de uma lei universal (p.ex.: A água ferve a 100ºC), pouco importa quem a enuncia, onde e quando, mas uma frase como "estou de pé" é verdadeira para algumas de suas ocorrências e falsa para outras. Portanto, a distinção tipo/ocorrência é um instrumento de análise indispensável tanto para a determinação do sentido quanto da verdade. "A pragmática se interessa por tudo o que é função da ocorrência de um signo" (ARMENGAUD, p. 29).
Distinção entre signo-símbolo, signo-índice e signo-ícone
Um signo é um símbolo se aquilo que ele representa lhe é associado por convenção, como no caso dos signos da linguagem e dos códigos culturais em geral. A convenção associa ao signo como tipo um significado, e cada ocorrência do signo atualiza essa associação. O símbolo, segundo Peirce, recobre o arbitrário saussureano do signo.
Um signo é um índice se cada uma de suas ocorrências está vinculada àquilo de que ele é índice: o signo e aquilo a que ele remete fazem parte de uma mesma situação existencial, como a fumaça e o fogo. Na ordem existencial, só importam as ocorrências; não se pode falar aqui de signo-tipo, mas se podem depreender leis de correlações indiciais.
Enfim, o signo ícone partilha com aquilo de que é signo algumas propriedades, mas não todas. O exemplo mais simples é visto nas maquetes ou projetos de arquitetos.
Lúcia Santaella explica os mesmos conceitos de outra forma no livro "O que é semiótica", da coleção Primeiros Passos. Ela afirma, ainda, que os extensos estudos de Peirce levaram-no a estabelecer três categorias universais do pensamento e da natureza, e, assim, três elementos constituintes de todas as experiências. "Nessa medida, para nós tudo é signo, qualquer coisa que se produz na consciência tem o caráter de signo. No entanto, Peirce leva a noção de signo tão longe a ponto de que um signo não tenha necessariamente de ser uma representação mental, mas pode ser uma ação ou experiência, ou mesmo uma mera qualidade de impressão" (SANTAELLA, p. 72).
Inicialmente, em 1867, essas categorias foram denominadas:1) qualidade; 2) relação, ou reação; 3) representação, ou mediação. Apenas em 1885, após 18 anos de observação, Peirce estenderia suas categorias descobertas pela análise lógica do fenômeno mental para toda a natureza. Cabe ressaltar que a Semiótica foi encaixada dentro de uma classificação das ciências estruturada pelo seu próprio fundador. Ao construir a arquitetura do seu sistema, Peirce colocou a fenomenologia como a primeira instância de um trabalho filosófico, considerando a criação de uma Doutrina das Categorias a tarefa primeira de um filósofo, sendo nesse aspecto profundamente influenciado por Kant.
Os fundamentos de Peirce são reflexivos e filosóficos, não empíricos. A triadicidade da semiose foi fundamentada numa teoria das categorias (dedução transcendental das categorias...?) tomada emprestada de Kant, a partir da qual Peirce funda sua própria filosofia: o pragmatismo.
Definição triádica daquilo que, ao entrar no processo de semiose, se torna signo:
a) material significante: suporte, veículo, traço perceptível e pertinente;
b) o significado ou o representado;
c) o interpretante.
Neste caso, o interpretante segundo Peirce NÃO é idêntico ao intérprete, que é um indivíduo empírico, mas um elemento constitutivo do próprio signo. É o signo equivalente ao que foi representado, porém criado na outra pessoa. Mais tarde, Morris e Carnap apagaram a distinção entre interpretante e intérprete.
A partir da obra de Peirce, a linguagem passou a ser compreendida sob o paradigma da comunicabilidade: o sentido é função do uso. O autor também fez duas distinções importantes para a análise da linguagem em geral e para a análise pragmática em particular: a distinção entre uma expressão considerada como "tipo" e as "ocorrências" dessa expressão, e a distinção entre signo-índice, signo-símbolo e signo-ícone.
Ocorrência x Tipo ("token"/"type")
"Em um mês, em um ano, como sofreremos
Que o dia recomece e que o dia acabe..."
Se estivermos lendo, temos duas inscrições materiais do termo "dia"; se estivermos ouvindo, duas enunciações vocais distintas do mesmo termo. Essas aparições concretas, datadas e localizadas, de um signo são chamadas de ocorrências ("token"), enquanto o termo suscetíveis às ocorrências é o tipo ("type"), entidade ideal, sempre idêntico a si mesmo, em diversas realizações.
O fato de se levar em consideração a identidade do falante, sua intenção e sua situação, modifica o sentido do signo, esclarece-o e enriquece-o. Quando se fala do sentido literal de uma frase, ela é isolada como frase-tipo, independente de toda ocorrência em um discurso; o sentido então é apenas função dos seus termos componentes e do seu encadeamento sintático. No enunciado de uma lei universal (p.ex.: A água ferve a 100ºC), pouco importa quem a enuncia, onde e quando, mas uma frase como "estou de pé" é verdadeira para algumas de suas ocorrências e falsa para outras. Portanto, a distinção tipo/ocorrência é um instrumento de análise indispensável tanto para a determinação do sentido quanto da verdade. "A pragmática se interessa por tudo o que é função da ocorrência de um signo" (ARMENGAUD, p. 29).
Distinção entre signo-símbolo, signo-índice e signo-ícone
Um signo é um símbolo se aquilo que ele representa lhe é associado por convenção, como no caso dos signos da linguagem e dos códigos culturais em geral. A convenção associa ao signo como tipo um significado, e cada ocorrência do signo atualiza essa associação. O símbolo, segundo Peirce, recobre o arbitrário saussureano do signo.
Um signo é um índice se cada uma de suas ocorrências está vinculada àquilo de que ele é índice: o signo e aquilo a que ele remete fazem parte de uma mesma situação existencial, como a fumaça e o fogo. Na ordem existencial, só importam as ocorrências; não se pode falar aqui de signo-tipo, mas se podem depreender leis de correlações indiciais.
Enfim, o signo ícone partilha com aquilo de que é signo algumas propriedades, mas não todas. O exemplo mais simples é visto nas maquetes ou projetos de arquitetos.
Lúcia Santaella explica os mesmos conceitos de outra forma no livro "O que é semiótica", da coleção Primeiros Passos. Ela afirma, ainda, que os extensos estudos de Peirce levaram-no a estabelecer três categorias universais do pensamento e da natureza, e, assim, três elementos constituintes de todas as experiências. "Nessa medida, para nós tudo é signo, qualquer coisa que se produz na consciência tem o caráter de signo. No entanto, Peirce leva a noção de signo tão longe a ponto de que um signo não tenha necessariamente de ser uma representação mental, mas pode ser uma ação ou experiência, ou mesmo uma mera qualidade de impressão" (SANTAELLA, p. 72).
Inicialmente, em 1867, essas categorias foram denominadas:1) qualidade; 2) relação, ou reação; 3) representação, ou mediação. Apenas em 1885, após 18 anos de observação, Peirce estenderia suas categorias descobertas pela análise lógica do fenômeno mental para toda a natureza. Cabe ressaltar que a Semiótica foi encaixada dentro de uma classificação das ciências estruturada pelo seu próprio fundador. Ao construir a arquitetura do seu sistema, Peirce colocou a fenomenologia como a primeira instância de um trabalho filosófico, considerando a criação de uma Doutrina das Categorias a tarefa primeira de um filósofo, sendo nesse aspecto profundamente influenciado por Kant.