A redoma de vidro (Sylvia Plath)

"No início fiquei otimista.
Pensei que poderia aprender taquigrafia rapidamente, e quando a mulher sardenta do Departamento de Bolsas de Estudo me perguntasse porque eu não havia trabalhado durante julho e agosto, como se espera de qualquer bolsista, eu poderia dizer que tinha feito um curso grátis de taquigrafia para me sustentar quando saísse da faculdade.
O problema era que quando eu tentava me imaginar em algum emprego, rabiscando alegremente linhas e linhas de taquigrafia, minha mente travava. Não havia um só trabalho que eu tivesse vontade de fazer que precisasse de um taquígrafo. E à medida que eu observava o quadro-negro, aquelas garatujas escritas em giz iam se borrando até perderem o sentido.
Falei para minha mãe que estava com uma dor de cabeça terrível e fui para a cama.
Uma hora depois a porta se abriu lentamente e ela entrou silenciosamento no quarto. Ouvi o farfalhar de suas roupas enquanto ela se despia. Ela deitou-se na cama e sua respiração foi ficando mais lenta e regular.
Sob a luz fraca do poste, que se infiltrava pelas venezianas fechadas, eu podia ver os grampos na cabeça da minha mãe brilhando como uma sequência de pequenas baionetas.
Decidi que deixaria o romance de lado até ir à Europa e arrumar um amante, e que jamais aprenderia uma só palavra de taquigrafia. Se eu nunca aprendesse, nunca teria que colocar aquilo em prática.
Resolvi que passaria o verão lendo Finnegans Wake e escrevendo minha tese.
Assim eu estaria bem adiantada quando as aulas recomeçassem em setembro e poderia curtir meu último ano de faculdade em vez de ficar estudando feito uma louca, sem maquiagem na cara e com o cabelo todo pegajoso, vivendo à base de café e Bezendrina, como a maioria dos formandos fazia para terminar suas teses.
Então pensei que também poderia trancar a faculdade por um ano e virar aprendiz de ceramista.
Ou dar um jeito de mudar para a Alemanha e trabalhar como garçonete até aprender a língua.
E assim minha cabeça foi se enchendo de planos, um depois do outro, como uma família de coelhos distraídos.
Vi os anos da minha vida se estendendo como postes telefônicos ao longo de uma estrada, ligados um ao outro através de fios. Contei um, dois, três... dezenove postes, os fios balançando no ar, e por mais que tentasse eu não conseguia ver poste algum depois do décimo nono." (p. 137-138)