"Teoria da Literatura", Terry Eagleton
O estruturalismo, com sua abordagem formal e mais científica, via a literatura a partir de uma perspectiva relacional, como, por exemplo, através de binarismos, vistos como “UNIVERSAIS”, para elaborar esquemas de interpretação. A partir do estruturalismo, o significado não é mais imanente ao signo, como pensavam antes a crítica humanista ou a psicanálise, mas sim funcional.
Saussure é um estruturalista clássico. Segundo ele, SIGNO (ou REFERENTE) = significante + significado, sendo que todas essas relações são arbitrárias. Para Saussure, é a langue que deve ser estudada, colocando os referentes entre parênteses.
langue (estrutura objetiva dos signos) ≠ parole (fala real)
Para Eagleton, o contexto histórico foi favorável ao sucesso do estruturalismo, particularmente na literatura. Em 1950, com o desenvolvimento da sociedade norte-americana, que se tornava mais cientificista e empresarial, a Nova Crítica era insuficiente, demasiado particularista. Tornou-se necessário uma teoria que permanecesse formalista, no sentido de que a literatura seria um objeto estético e não uma prática social, mas fizesse de tudo algo mais sistemático e científico.
Assim, Northrop Frye buscou elaborar um sistema objetivo, eliminando “juízos de valor”, livrando a literatura da História; ou, ainda, isolando-a, utilizando-a como um substitutivo dela. A literatura era considerada uma “estrutura verbal autônoma”, e não uma forma de conhecer a realidade (abordagem cognitivista da Nova Crítica, entre outras teorias). De certa forma, a visão de Frye é antihumanista, pois descentraliza o sujeito individual humano, e centraliza tudo no próprio sistema literário coletivo. A literatura é, ainda, usada como um paliativo para a falência religiosa.
Apesar de não estar filiada ao estruturalismo, a obra de Frye é contemporânea ao crescimento do estruturalismo “clássico” na Europa, e tem em comum o fato de se ocupar do exame das estruturas e das leis gerais pelas quais as estruturas funcionam. Porém, se os fenômenos individuais são reduzidos a meros exemplos dessas leis, por outro lado o estruturalismo sabe que as unidades individuais de qualquer sistema só tem significado em virtude de suas relações mútuas.
De acordo com o estruturalismo, o significado de cada imagem só existe em relação às outras imagens; o significado não é “substancial”, e sim relacional, como através do estabelecimento dos binarismos. No fim das contas, o mais importante é a forma, do que o conteúdo da história. A crítica ESTRUTURALISTA (relações entre as unidades), se diferencia assim da crítica HUMANISTA ou da PSICANÁLISE (significação intrínseca dos itens).
O estruturalismo foi, também, uma afronta ao senso comum, pois busca ir além do significado óbvio da história, se debruçando sobre suas estruturas profundas. No caso, se o conteúdo do texto é substituível, em certo sentido o conteúdo da narrativa é a sua estrutura, suas relações internas, seus meios de estabelecer sentido. Saussure via a linguagem como um sistema de signos que devia ser estudado “sincronicamente” (como um sistema completo num determinado momento do tempo) e não “diacronicamente” (ou seja, em seu desenvolvimento histórico).
Todo SIGNO seria formado por um SIGNIFICANTE (som-imagem ou seu equivalente gráfico) e um SIGNIFICADO (o conceito ou significado). A razão entre o significante e o significado é arbitrária, não havendo razão inerente para estabelecê-la, a não ser a convenção cultural e histórica. O significado não é inerente ao signo, mas funcional, resultado de sua diferença para com outros signos: “no sistema linguístico existem apenas diferenças”, afirma Saussure. Ele não estava interessado em investigar aquilo que as pessoas realmente dizem, mas sim a estrutura objetiva dos signos que tornavam possível a sua fala. Isto seria a langue, enquanto a fala real consistiria na parole. Saussure também não se interessava pelos objetos reais de que falam as pessoas, pois acreditava que para estudar a língua com eficiência, os referentes dos signos, que são as coisas que na realidade eles denotam (outra relação arbitrária), tinham que ser colocados entre parenteses.
De modo geral, o estruturalismo é uma tentativa de aplicar essa teoria linguística a outros objetos e atividades que não a própria língua, como mitos, sistemas de parentesco tribais, ou um quadro a óleo: todos são sistemas de signos, e uma análise estruturalista tentará ressaltar a série de leis pelas quais esses signos se combinam em significados. Ela deixará de lado boa parte daquilo que os signos realmente “dizem” e, em lugar disso, se concentrará em suas relações mútuas internas. “O estruturalismo, como disse Fredric Jameson, é uma tentativa de “repensar tudo em termos linguísticos”. É um sintoma do fato de que a linguagem, com seus problemas, mistérios e implicações, tornou-se tanto um paradigma como uma obsessão para a vida intelectual do séc XX.”
As opiniões linguísticas de Saussure influenciaram os formalistas russos, mesmo que o formalismo não seja exatamente um estruturalismo. No entanto, foi um dos formalistas russos, Roman Jakobson, quem estabeleceu a ligação principal entre o formalismo e o estruturalismo moderno, quando conheceu o antropólogo Claude Lévi-Strauss. Para Jakobson, o funcionamento poético da linguagem chama a atenção para as qualidades materiais dos signos, e não simplesmente para seu uso como elementos de comunicação. No “poético”, o signo é deslocado de seu objeto, e como a relação habitual entre signo e referente é modificada, isto permite ao signo uma certa independência como objeto de valor em si.
A escola linguística de Praga, da qual Jakobson fez parte, representou uma espécie de transição do formalismo para o estruturalismo moderno. Seus teóricos desenvolveram as ideias dos formalistas, sistematizando-as com maior firmeza dentro do quadro da linguística saussureana. A ênfase de Saussure na relação arbitrária entre signo e referente, entre palavra e coisa, ajudou a desligar o texto do seu ambiente e torná-lo um objeto autônomo.
Mas a obra literária ainda era relacionada com o mundo pelo conceito formalista da “desfamiliarização”: a arte modifica e abala os sistemas convencionais de signos, força nossa atenção para o processo material da própria língua e com isso renova as nossas percepções. A obra de arte é valorizada pelo seu desvio em relação à norma linguística. Além disso, os estruturalistas tchecos insistiram na unidade estrutural da obra, como um sistema fechado, porém a obra de arte só seria vista como tal em contraposição ao pano de fundo mais geral das significações, dependendo de circunstâncias sociais e históricas.
Para Eagleton, com a obra da escola de Praga, a palavra “estruturalismo” aproxima-se de uma fusão com a palavra “semiótica”, que significa o estudo sistemático dos signos, e era isso que os estruturalistas estavam fazendo. Mas enquanto a palavra “estruturalismo” indica um método de investigação, a “semiótica” indica um campo particular de estudo, o dos sistemas que normalmente seriam considerados como signos. E, por outro lado, o estruturalismo trata de algo que habitualmente não pode ser visto como sistema de signos, como as relações de parentesco das sociedades tribais, enquanto que a semiótica usa comumente os métodos estruturalistas.
OFF (falta resumir semiótica, que vai da página 138 até 142): Peirce lançou as bases da teoria consensual da verdade, negando a ideia positivista de separar o que é apreendido objetivamente e o que o homem apreende subjetivamente (busca pela verdade absoluta). Rompendo com o paradigma positivista, a teoria consensual da verdade (Peirce) sugere que a validação se dá pelo meio social. Diferente de autores que demonstram desencanto pelos ideais emancipatórios da linha marxista, como Foucault, aos quais Habermas se refere ao falar em “evasão dos céticos” (ver em "Ética da discussão").
Uma consequência do estruturalismo é a “descentralização” do sujeito individual, que deixa de ser considerado como a fonte ou a finalidade do significado, como percebeu Levi-Strauss com sua obra pioneira sobre o mito. Nela, o antropólogo considerava mitos aparentemente diferentes como variações de um certo número de temas básicos, pois sob a imensa heterogeneidade dos mitos havia certas estruturas universais constantes, às quais qualquer mito poderia ser reduzido. Quanto às regras que governavam essas combinações, tais relações seriam inerentes à própria mente humana, e ao estudar o corpo de um mito estaríamos examinando as operações mentais universais que o estruturam, como a formulação de oposições binárias. Os mitos seriam recursos para pensar, modos de classificar e organizar a realidade. É por isso que ocorre a descentralização: os mitos têm uma existência coletiva semiobjetiva, revelam sua lógica com total indiferença pelas imprecisões do pensamento individual e reduzem qualquer consciência particular a uma mera função deles mesmos.
Para Eagleton, entre as conquistas do estruturalismo está a impiedosa desmistificação da literatura, quando suas observações demasiado subjetivas foram castigadas por uma crítica que reconhecia a obra literária como um constructo, tal qual os outros produtos da linguagem, cujos mecanismos poderiam ser classificados e analisados como os objetos de qualquer outra ciência. O mundo dos grandes estetas e dos eruditos humanistas literários parecia ter terminado, e estes sujeitos foram colocados em perspectiva histórica.
Um dos progressos importantes do estruturalismo foi a ênfase na construtividade do significado humano, que deixou de ser uma experiência privada ou uma ocorrência ordenada divinamente: era produto de certos sistemas comuns de significação. A linguagem era anterior ao indivíduo, e era menos seu produto do que ele produto dela; o significado não era “natural”, uma questão de apenas olhar e ver, ou algo estabelecido eternamente, mas a maneira pela qual interpretamos nosso mundo é função das línguas que temos a nossa disposição, e evidentemente nao há nada de imutavel nelas. O significado não era algo de que todos os homens em toda a parte partilhassem intuitivamente, para em seguida articularem em suas várias línguas e escritas; o significado que podíamos articular dependia, sobretudo, da escrita ou da fala que possuíamos. Aí estavam as sementes de uma teoria do significado social e histórico, cujas implicações seriam profundas no pensamento contemporâneo.
A realidade deixou de ser uma ordem fixa de coisas que a língua apenas refletia, como se houvesse um elo natural entre a palavra e a coisa, uma série de correspondências entre as duas. Saussure, ao defender que a relação entre signo e referente era arbitrária, questionava essa teoria da “correspondência” do conhecimento. Para ele, a realidade não era refletida pela língua, mas produzida por ela: era uma maneira particular de formular o mundo, profundamente dependente dos sistemas de signos à nossa disposição, ou que nos tinham à sua disposição… Porém, começou-se a suspeitar se o estruturalismo, assim, não constituiria mais uma forma de idealismo filosófico, já que ver a realidade como essencialmente um produto da língua parecia a mais nova versao da doutrina idealista clássica de que o mundo é constítuido pela consciência humana.
Para Eagleton, as sementes de uma teoria do significado social e histórica não puderam germinar com o estruturalismo porque, se era possível ver os sistemas de sinais como culturalmente variáveis, o mesmo não acontecia com as leis profundas que governavam o funcionamento desses sistemas. Levi-Strauss, por exemplo, acreditava que tais leis eram universais e tinham suas raízes nas estruturas do próprio cérebro humano. “O estruturalismo era espantosamente não-histórico: as leis da mente que ele dizia isolar - paralelismos, oposições, inversões, e todo o resto - agiam em um nível de generalidade bastante distante das diferenças concretas da história humana. Do alto desse Olimpo, todas as entes pareciam-se muito entre si” (pg. 149)
“O estruturalismo e a fenomenologia, por mais diferentes que sejam quanto a aspectos centrais, surgem ambos do ato irônico de afastar o mundo material a fim de esclarecer melhor a consciência que dele temos. Para qualquer pessoa que acredita ser a consciência, num importante sentido, prática, inseparavelmente ligada às maneiras pelas quais agimos na realidade e sobre a realidade, tal atitude encerra em si os germes de sua própria destruição (...). Mas não se tratava apenas de afastar alto tão geral quanto “o mundo”: tratava-se de descobrir uma nesga de certeza em um mundo onde a certeza parecia difícil de ser encontrada.” (p. 150) > o momento histórico era fim do século XIX e começo do século XX, às vésperas da Primeira Guerra.
Saussure, ao separar a langue da parole, colocou em segundo plano aquilo de que a língua falava, ou seja, o referente, o objeto real, denotado pelo signo, foi colocado em suspensão pra poder examinar melhor a estrutura real do próprio signo. Isso é muito semelhante ao que Husserl faz, quando separa o objeto real afim de se aproximar da maneira pela qual a mente o percebe. O estruturalismo e a femenologia, por mais diferentes que sejam quanto a aspectos centrais, nascem ambos do ato de afastar o mundo material a fim de esclarecer melhor a consciência que dele temos. Pra qualquer pessoa que acredita ser a consciência, em um importante sentido, PRÁTICA, inseparavelmente ligada às maneiras pelas quais agimos na realidade e sobre a realidade, tal atitude encerra em si os germes da sua própria destruição.
Não se tratava apenas de afastar algo tao geral quanto o mundo, mas sim de descobrir a certeza em um mundo onde a certeza parecia difícil de ser encontrada. Em vários momentos, pra vários autores, esse recurso ao mito representou uma fuga em relação a historia contemporânea, por exemplo, no caso do estruturalismo moderno e em casos como Joyce, Elliot...
Para o estruturalismo, a transformação histórica era uma questão de realinhamento gradual de elementos fixos dentro do sistema. Isso foi trazido por Jakobson, porque antes Saussure via a transformação como uma perturbação e desequilíbrio em um sistema essencialmente livre de conflito, que oscilará por um momento, restabelecerá seu equilíbrio e nesse processo assimilará a mudança. Os formalistas, como Jakobson, explicaram a própria transformação e como ela poderia ser estudada sistematicamente: para eles, o desenvolvimento literário ocorria por meio de oscilações dentro de um sistema hierárquico, de modo que uma forma anteriormente dominante se tornava subordinada e vice-versa, e essa dinâmica era a desfamiliarização.
A preocupação do estruturalismo com a linguagem foi radical em suas implicações, ao mesmo tempo que foi uma obsessão familiar aos acadêmicos. Seria a linguagem realmente tudo o que existia? E o trabalho, a sexualidade, o poder político? Essas realidades poderiam estar inseparavelmente ligadas no discurso, mas certamente não eram redutíveis a ele.
O que havia acontecido com o conceito de literatura como prática social, uma forma de produção não necessariamente só voltada para o próprio produto? O estruturalismo podia dissecar esse produto, mas se recusava a investigar as condições materiais de sua realização, já que isso poderia significar uma rendição ao mito de uma origem. E não eram muitos os estruturalistas que se preocupavam com a forma pela qual o produto era consumido, ou o que acontecia quando as pessoas liam obras literárias, qual o papel que essas obras desempenhavam nas relações sociais como um todo.
A ênfase que o estruturalismo dava à natureza integrada de um sistema de signos parecia uma outra versão da obra como uma unidade orgânica. A materialidade do próprio texto, seus detalhados processos linguísticos, corriam o risco de ser abolidos, porque a superfície de um segmento textual pouco mais era do que um reflexo obediente de suas profundezas ocultas. Todas as características superficiais da obra podiam ser reduzidas a uma "essência", a um único significado central que informava todos os aspectos da obra. E ao mesmo tempo que o estruturalismo afastava o objeto real, afastava também o sujeito humano, e esse movimento define o projeto estruturalista. Se elimina tanto o objeto quanto a expressão de um sujeito individual; os dois são eliminados e a única coisa que resta é um sistema de regras que possui existência autônoma.
O estruturalismo é antihumanista porque rejeita a ideia de que o significado começa e termina na EXPERIÊNCIA do indivíduo. Para a tradição humanista, o significado é o que eu crio, o que nós criamos juntos – mas como poderemos criar significados a menos que as regras que os governam ja existam? Por mais que recuemos no tempo buscando a origem do significado, encontraremos sempre uma estrutura já existente. De onde veio o emitente do modelo de Jakobson? O modelo estruturalista não leva em conta que, embora a linguagem não seja melhor interpretada como uma expressão individual, sem dúvidas ela envolve os sujeitos humanos e suas intenções.
É importante indagar as intenções do sujeito humano para entender o significado em determinados contextos, continuar se perguntando sobre os efeitos que sua linguagem está tentando provocar, é uma forma de compreender a própria situação. Compreender a minha intenção é entender minha fala e meu comportamento em relação ao contexto significativo. Quando compreendemos as intenções de uma manifestação de linguagem, nós a interpretamos como orientada, com um certo sentido, como estruturada para provocar certos efeitos, e nada disso pode ser percebido sem as condições práticas nas quais a linguagem funciona: é ver a linguagem como uma pratica, e não como um objeto, e naturalmente não há prática sem sujeitos humanos. (p. 156)
A semiótica, para Eagleton, se assemelha ao estruturalismo por ser um estudo sistemático dos signos. Saussure suspendia o referente, ou objeto real denotado pelo signo, para examinar melhor o próprio signo! “Afastam o mundo material afim de esclarecer melhor a consciência que dele temos” (p. 150). Porém a consciência é prática, e ao afastar o objeto real, o estruturalismo também afastava o sujeito humano.
O abandono do estruturalismo, nas palavras de Émile Benveniste, foi em parte uma passagem da “linguagem” para o “discurso”. Enquanto a linguagem era, tal como a fala ou a escrita, vista “objetivamente” como uma cadeia de signos sem sujeito, o discurso é a linguagem vista como uma manifestação que envolve sujeitos que falam e escrevem. Bakhtin foi um crítico da linguística saussureana que desviou a atenção do sistema abstrato da langue para as manifestações concretas de indivíduos em determinados contextos sociais, pois ele via a linguagem como um campo de luta ideológico, e os signos como o veículo material da ideologia.
Outra corrente antiestruturalista foi a teoria dos atos de fala, que parte da observação de Austin de que nem toda a nossa linguagem descreve a realidade, sendo também desempenhativa, pois visa promover alguma forma de ação. Isto porque “falar” é sempre “agir” em relação a alguém, apenas pelo fato de lhe dirigir a palavra com alguma intenção. Mas o objeto de análise de Austin era “o ato total de fala na situação total de fala”, enquanto Bakhtin mostra que há, nessas situações e atos de fala, algo além do que suspeita a teoria de Austin.
No caso da literatura, compreender a “intenção” de uma obra é, diferentemente da hermenêutica de Hirsch, compreender seus efeitos, pressupostos, táticas e orientações textuais, conforme explica Eagleton. E de certa forma isso é concordar com os estruturalistas que, ao ver assim a relação entre linguagem e subjetividade humana, evitavam a falácia humanista que desmaterializava a literatura a fim de reduzir sua densidade material como linguagem ao “encontro” entre “pessoas” vivas, e no espírito liberal humanista, reduzir tudo à esfera interpessoal.
Porém o estruturalismo acabou caindo na armadilha oposta quando aboliu os sujeitos humanos. E o “leitor ideal” para os estruturalistas seria um tipo de sujeito transcendental, dotado do que Chomsky chamava de “competência”.
O abandono do estruturalismo, nas palavras de Émile Benveniste, foi em parte uma passagem da “linguagem” para o “discurso”. Enquanto a linguagem era, tal como a fala ou a escrita, vista “objetivamente” como uma cadeia de signos sem sujeito, o discurso é a linguagem vista como uma manifestação que envolve sujeitos que falam e escrevem. Bakhtin foi um crítico da linguística saussureana que desviou a atenção do sistema abstrato da langue para as manifestações concretas de indivíduos em determinados contextos sociais, pois ele via a linguagem como um campo de luta ideológico, e os signos como o veículo material da ideologia.
Outra corrente antiestruturalista foi a teoria dos atos de fala, que parte da observação de Austin de que nem toda a nossa linguagem descreve a realidade, sendo também desempenhativa, pois visa promover alguma forma de ação. Isto porque “falar” é sempre “agir” em relação a alguém, apenas pelo fato de lhe dirigir a palavra com alguma intenção. Mas o objeto de análise de Austin era “o ato total de fala na situação total de fala”, enquanto Bakhtin mostra que há, nessas situações e atos de fala, algo além do que suspeita a teoria de Austin.
No caso da literatura, compreender a “intenção” de uma obra é, diferentemente da hermenêutica de Hirsch, compreender seus efeitos, pressupostos, táticas e orientações textuais, conforme explica Eagleton. E de certa forma isso é concordar com os estruturalistas que, ao ver assim a relação entre linguagem e subjetividade humana, evitavam a falácia humanista que desmaterializava a literatura a fim de reduzir sua densidade material como linguagem ao “encontro” entre “pessoas” vivas, e no espírito liberal humanista, reduzir tudo à esfera interpessoal.
Porém o estruturalismo acabou caindo na armadilha oposta quando aboliu os sujeitos humanos. E o “leitor ideal” para os estruturalistas seria um tipo de sujeito transcendental, dotado do que Chomsky chamava de “competência”.